Véu de Māyā em Schopenhauer: aparência, ilusão e despertar
O véu de māyā, expressão de origem indiana, aponta para a aparência enganosa que encobre o real. Em Schopenhauer, a metáfora ganha força filosófica: aquilo que percebemos — cores, formas, promessas de satisfação — é representação (Vorstellung), uma cena montada pela nossa estrutura cognitiva. A vida captura por imagens sedutoras; por trás delas, pulsa algo irredutível ao conceito: a Vontade.
Esse véu não é apenas engano; é também condição de possibilidade da experiência. Sem ele, não haveria mundo comum nem linguagem. O problema aparece quando tomamos a aparência como totalidade — quando o conforto, o útil e o agradável se tornam medida última do sentido. A filosofia de Schopenhauer indica duas saídas complementares: a estética, em que a contemplação artística suspende o querer; e a ascese, em que a Vontade é aquietada pelo exercício ético.
Ponte com o conto “Véu de Maya”. No conto, cidades sob redomas e algoritmos de cuidado fabricam um mundo perfeito de aparência. O conforto não fere — anestesia. Isso é o véu operando como política: um desenho de mundo que remove fricções e adormece a Vontade. A fissura começa quando a arte e a memória rasgam o véu o bastante para que o incômodo (e a escolha) voltem a existir.
Veja o conto do autor: Véu de Maya.
